A cor é uma sensação, produto da recolha de dados pelos cones na imagem retiniana. Dados esses tratados depois pelo cérebro, dando origem à percepção, processo em que são relacionados com outros elementos de informação visual, como o brilho, a forma e o movimento, e também, através da memória com informação geneticamente herdada, com experiências sensoriais vividas, bem como com elementos adquiridos de natureza cultural.
Muitas vezes, para caracterizar uma coisa falamos na sua cor. Assim, dizemos, por exemplo, "o livro de capa verde" ou "o vestido vermelho". Quando o fazemos estamos a utilizar referências válidas no que respeita a linguagem ou a comunicação. Uma frase como "sob o céu azul o fruto verde está sobre o pano amarelo" é perfeitamente correcta, clara e inteligível. Essas referências cromáticas são no entanto subjectivas e embebidas de conotações de carácter cultural.
Nos exemplos acima, e na linguagem em geral, vocábulos como "amarelo", "azul", "verde", "vermelho", são signos linguísticos relacionados com as sensações proporcionadas pela percepção de luz solar reflectida por superfícies com determinadas características, mas também com a experiência das emoções ligadas a essas sensações, gostos, ideias feitas, instintos e valores simbólicos. A conotação dos termos referentes a valores cromáticos com o mais vasto campo de conceitos e de ideias pode ser facilmente ilustrada pelo frequente recurso da linguagem a expressões como "Fulano é da cor", "alma negra", "tudo azul", "a coisa está preta", "viu tudo vermelho", "romance cor-de-rosa", "humor negro", etc. Para os ocidentais, a cor do luto é o preto, para os chineses, o branco. Podemos, por um lado, considerar que a visão das cores é, por assim dizer, "filtrada" pela experiência anterior e por factores culturais; temos, por outro lado, que ter em conta que se produz um efeito de retorno ou "feed-back" que faz com que as cores utilizadas no vestuário, nos objectos, na arquitectura, na sinalética, etc., obedeçam a gostos, modas, convenções, normas, simbologia, etc.
- Luz
A luz é a parte do espectro electromagnético passível de ser registada pelos órgãos da visão. Essa faixa, que varia de espécie para espécie, constitui uma parte mínima do espectro total das radiações electromagnéticas. No caso do Homem, vai do vermelho ao violeta. A luz do Sol, que constitui a referência essencial para a nossa visão, é proveniente das reacções nucleares que acontecem permanentemente nessa estrela. O segmento visível é constituído por um conjunto de emissões em várias frequências. Esse conjunto é o que correntemente chamamos de luz branca e pode ser decomposto em elementos monocromáticos, por exemplo, através da passagem da luz do Sol por um prisma óptico, como na experiência de Newton. Esses elementos monocromáticos são indecomponíveis, o que também foi demonstrado por Newton. Às diferentes cores do espectro solar, as cores do arco-íris, correspondem comprimentos de onda perfeitamente definidos.
O olho é frequentemente descrito como semelhante auma máquina fotográfica, mas as características mais interessantes da percepção visual são justamente as que nada têm de parecido com uma máquina fotográfica... A tarefa do olho e do cérebro é muitíssimo diferente da de uma máquina fotográfica ou de vídeo, que se limitam simplesmente a converter objectos em imagens...Ver objectos envolve muitas fontes de informação além daquelas que se apresentam ao olho quando olhamos para um objecto... Envolve geralmente conhecimento do objecto derivado de experiências prévias e tais experiências não se limitam à visão, mas podem incluir os outros sentidos: tacto, paladar, olfacto, audição e talvez até temperatura e dor.
- Psicologia da Cor
Os primeiros estudos teóricos que se podem considerar como estando neste âmbito remontam aos escritos de Leonardo da Vinci sobre o complicado problema da cor das sombras. Mais recentemente, outro estudioso da cor neste campo foi o poeta alemão Goethe.
São especialmente importantes as leis do contraste simultâneo da cor e do contraste sucessivo da cor. Chevreul, desde meados do século XIX, chefiando o laboratório das manufacturas de tapeçarias Les Gobelins, em Paris, desenvolveu estudos no campo da tinturaria. Se as suas investigações recaíam essencialmente no plano da química, os fenómenos físicos da cor não lhe eram alheios e conduzi-lo-iam mesmo ao campo da psicologia, isto é, da percepção da cor. A teoria do contraste simultâneo da cor é o resultado de tais investigações, que tanto o notabilizaram e que viriam a ter uma influência de grande peso na arte da segunda metade do século passado, na medida em que inspirou directa ou indirectamente todos os impressionistas, cujo movimento, embora inicialmente restrito e contestado, marcaria todos os demais movimentos e escolas contemporâneos e posteriores.
Segundo Chevreul, uma cor não pode ser considerada isoladamente, mas sim em confronto com o contexto cromático em que se insere. Efectivamente, a nível da percepção, uma cor varia de acordo com as cores que a circundam. É esclarecedora a experiência que se faz a partir duma série de quadrados de papel de cores diferentes onde se abrem janelas iguais na forma e nas dimensões. Sobrepondo todos esses quadrados a uma folha de cor uniforme, verifica-se que essa cor varia de janela para janela, podendo ser essa alteração a nível da luminosidade, da saturação e até do matiz. Este fenómeno deve-se justamente ao contraste simultâneo da cor. O efeito do contraste simultâneo das cores pode ir ao ponto de numa determinada composição percebermos cores que não estão fisicamente presentes nessa composição. Outra correlação das cores é a forma como elas interagem quando vemos de modo consecutivo superfícies de cores diferentes. A essa interacção chama-se contraste sucessivo das cores.
Série de quatro grupos dispostos em linhas em que quadrados da mesma cor em cada linha têm fundos de cores diferentes. Estes exemplos demonstram as consequências do contraste simultâneo. De notar em cada linha a diferente percepção da cor dos quadrados inscritos em função da cor dos quadrados que lhes servem de fundo. Deve-se reparar que a intensidade desse efeito leva inclusivamente à ilusão de óptica que faz com que a relação das dimensões entre os quadrados interiores e exteriores seja aparentemente variável quando geometricamente isso não acontece. O que se vê nesta figura não constitui um arranjo particular ou excepcional, é antes a demonstração da forma como nós percebemos as cores, ou seja, de modo não isolado. Para a percepção da cor de um objecto é tão importante a cor da luz por ele reflectida como o ambiente em que se integra.
- Cores Acromáticas e Cores Cromáticas
O branco, o preto e a gama infinita dos cinzentos que podem existir entre eles são cores acromáticas. São acromáticas, por exemplo, as imagens produzidas pelos antigos televisores a preto e branco. Fora dessa gama, existem cores cromáticas (as cores do arco-íris) e cores com uma componente cromática e uma componente acromática, uma terra sienna ou um verde seco, por exemplo.
- Definição e descrição rigorosa das cores
O número das cores possíveis de serem criadas e utilizadas é infinito. Seria pois impossível existirem expressões verbais que pudessem referir toda e qualquer cor. Existem no entanto formas de definir e de comunicar rigorosamente a descrição de uma determinada cor através de características mensuráveis dessa cor. Uma das formas de descrever uma cor é através dos valores correspondentes ao matiz, à saturação e à luminosidade dessa cor.
Esquema tridimensional da definição das cores através das suas três dimensões: o eixo vertical representa a luminosidade; os matizes situam-se ao longo da circunferência; a saturação é estimada pela posição da cor sobre o raio
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